Uma excelente dica de livro é do Rabino HAROLD KUSHNER.
ABAIXO UMA ENTREVISTA COM ELE POSTADO PELO RICARDO GUERRA que é mestre em ciência da fisiologia do esporte pela
Liverpool John Moores University. Trabalhou em diversos clubes no
Oriente Médio e na Europa e nas seleções nacionais do Egito e do Catar.
Ricardo Guerra
terça-feira 05/02/13
Acima o Rabino Harold Kushner O Rabino
Harold Kushner é uma das autoridades religiosas mais respeitadas do
mundo. Seu best-seller, Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas,
já vendeu mais de 4 milhões de cópias. O livro foi escrito após a morte
trágica de seu filho, que aos três anos de idade foi diagnosticado com
[...]
Acima o Rabino Harold Kushner
O Rabino Harold Kushner é uma das autoridades religiosas mais respeitadas do mundo. Seu best-seller, Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas,
já vendeu mais de 4 milhões de cópias. O livro foi escrito após a morte
trágica de seu filho, que aos três anos de idade foi diagnosticado com
uma doença degenerativa raríssima. A obra trata de assuntos referentes à
vida, ao sofrimento humano e à onipotência de Deus. Seus livros têm
sido uma fonte de inspiração para milhares de pessoas em todo o mundo.
Veja aqui a entrevista que me foi concedida esta semana na qual Kushner
fala sobre diversos assuntos, entre eles, a tragédia que atingiu Santa
Maria.
Pergunta Blog: O seu best-seller
foi uma fonte de inspiração e de consolo para milhões de pessoas que
passaram por momentos difíceis em todo o mundo. O que motivou você a
escrever este livro com tanta sabedoria e discernimento? Será que foi a
experiência trágica que você enfrentou com o seu filho?
Harold Kushner: Foi sim. Sem dúvida.
Pergunta Blog: Você gostaria de comentar sobre essa experiência?
Harold Kushner: Vou
contar-lhe toda a história. Eu cresci sempre acreditando em um Deus Todo
Poderoso e onipotente. Porém, se não pudéssemos entender porque Deus
permitiu o Holocausto e o nascimento de Hitler, ou que pessoas inocentes
morressem sofrendo de dores agonizantes por meio de um câncer, então
seria a nossa interpretação a respeito da função Dele que seria
limitada, pois não foi Deus que permitiu tais coisas. Não podia ser
Deus. Ele não faz isso, não escolhe tão arbitrariamente entre uma pessoa
e outra. A minha formação como rabino no seminário, foi muito
influenciada por essa linha de raciocínio. Quando descobri que meu filho
inocente estava condenado a uma vida de sofrimento, ou eu tinha que
parar de acreditar em Deus e deixar de ser um rabino, ou eu tinha que
passar a entender o papel de Deus, a função dele no mundo de uma forma
diferente. E foi aí que vi que Deus estava do meu lado, que Deus não
queria que estas coisas acontecessem comigo. O que aconteceu com o meu
filho foi uma fatalidade, foi simplesmente uma aberração da genética.
Mas uma vez que isso aconteceu e nós soubemos o diagnóstico do nosso
filho, minha esposa e eu não sabíamos se íamos ser capazes de lidar com
tal desafio e, no entanto, conseguimos. De alguma forma encontramos a
força, a sabedoria e a coragem para fazer exatamente o que tinha de ser
feito: fomos capazes de criá-lo e de fazer o melhor possível perante uma
situação trágica. Ele encontrou os recursos e as forças para lidar com o
desafio que estava diante dele. E foi essa experiência que mudou
completamente minha visão – eu não estava mais com raiva de Deus, e
poderia novamente voltar a contar com Ele e pedir sua ajuda em momentos
difíceis. Eu poderia continuar com a minha fé Nele para ajudar outras
pessoas com os seus problemas, e isso mudou tudo.
Pergunta Blog: Em seu livro,
você argumenta contra a crença de que Deus é uma força onipotente. Você
poderia apresentar aos leitores uma introdução a este tema?
Harold Kushner: Algumas
pessoas encontram muita dificuldade em aceitar ou lidar com a ideia de
que existe aleatoriedade no universo. Elas procuram razões e
justificações para tudo o que acontece. No entanto, coisas boas e ruins
podem acontecer sem qualquer motivo aparente. Quando um motorista bêbado
dirige seu carro sobre a linha central de uma estrada, colidindo com um
Chevrolet verde e matando os passageiros daquele carro, em vez do Ford
vermelho 50 metros mais distante, não há qualquer razão específica para a
perda de uma vida ao invés de outra. Esses eventos não refletem as
escolhas de Deus. Deus não escolhe de que forma acabar, tão
arbitrariamente, com uma vida em vez de outra. Porém, diante de tal
cenário, muitos dos que acabam de sofrer uma tragédia sentem raiva de
Deus, porque Lhe atribuem a culpa do acontecido. Ficam convencidos de
que Ele é cruel, ou de que são pecadores e responsáveis pelo que
aconteceu, ao invés de aceitarem a aleatoriedade que existe no universo.
O que eu proponho nos meus livros é que encaremos a posição de Deus em
nosso mundo de uma maneira completamente diferente.
Pergunta Blog: Você poderia explicar o assunto com maior profundidade?
Harold Kushner: O
psicanalista Carl Jung tem uma teoria de que as crianças sempre procuram
acreditar que seus pais são todo-poderosos, isto é, que os pais podem
consertar qualquer coisa que estiver errada ou com algum defeito e que
eles podem protegê-los de qualquer coisa. E elas ficam completamente
desiludidas quando descobrem que eles não possuem a capacidade de
protegê-las em todas as circunstâncias. Assim como as crianças, as
pessoas direcionam essa crença de um protetor todo poderoso para seus
líderes religiosos e políticos: como o rei, o presidente ou o papa.
Desse modo, quem quer que seja essa figura, se torna o novo onipotente, o
sábio, que irá fazer tudo o que é certo. Quando descobrimos que essa
figura também é apenas um ser humano, projetamos esta crença em Deus.
Desta forma, nenhum ser humano pode ser todo-poderoso, mas Deus pode!
Deus diz: “Espere um minuto! Nunca foi minha ideia ser o Todo-Poderoso.
Essa é a sua maneira de evitar suas responsabilidades, depositando-as
sobre de mim”. Deus diz: “Meu poder não é controlar o que aconteceu. Meu
poder está direcionado para que você tenha as forças necessárias para
responder ao que aconteceu. Meu poder é intervir após o fato, após o
acontecimento. E ajudá-lo a lidar com o que aconteceu”. Na minha
opinião, é aí que está a força, o poder que Deus tem, não para controlar
os fatos, mas para que possamos lidar da melhor forma com o que
aconteceu.
Pergunta Blog: Como você sabe,
na semana passada uma tragédia atingiu o estado do Rio Grande do Sul, no
Brasil, quando mais de 234 vidas foram perdidas em um incêndio em uma
boate. Diversas famílias foram destruídas, e os familiares,
inconsoláveis, encontram-se na difícil situação de ter que encontrar
forças extraordinárias para continuar vivendo sem os seus entes queridos. Como pode alguém, filosófica e teologicamente, começar a tentar lidar com uma tragédia tão terrível como essa?
Harold Kushner: Eu
tenho conhecimento do que aconteceu e me solidarizo com os brasileiros
neste momento muito difícil. A função de Deus é de nos dar a força de
vontade e a coragem para continuar a vida até mesmo diante de um
episódio tão trágico como este. Seus entes devem saber que Deus não teve
nenhuma responsabilidade em tirar a vida dessas pessoas inocentes, e
ele não é responsável pelo que aconteceu. A única coisa que podemos
pedir a Deus é para nos guiar e nos dar a força para lidar com essa
tragédia terrível. Ele vai estar lá para ajudar e guiar os seus parentes
que no momento se encontram inconsoláveis após esta terrível tragédia.
Pergunta Blog: Em diversas
ocasiões, usei alguma da sabedoria exposta em seus livros para tentar
consolar os inconsoláveis. No entanto, muitas vezes as pessoas que
possuem forte fé nas doutrinas de suas religiões se sentem ofendidas
quando alguém questiona a onipotência de Deus. O que você tem a dizer
sobre isso?
Harold Kushner:
Eu entendo o problema e sei que isso às vezes acontece. Se uma pessoa
se sente satisfeita com a compreensão tradicional sobre a função de Deus
no universo, eu não tenho intenção nenhuma de mudar a crença dela. Eu
respeito a posição de cada um e incentivo as pessoas a fazerem ou a
acreditarem naquilo que seja mais saudável para elas.
Pergunta Blog: Como pode um
devoto judeu, cristão ou muçulmano conciliar sua fé com o conselho que
você dá, ou seja, que questiona a onipotência de Deus?
Sim, é necessário certo esforço. Não é
uma tarefa completamente fácil. Aquilo em que eu acredito não
necessariamente funciona para todos. E eu serei o primeiro a admitir
que, se o sistema tradicional funciona para você, então não é necessário
buscar outra alternativa. Eu não quero roubar as pessoas das
alternativas de pensamento que funcionam para elas. No entanto, para
muitos dos que estão confusos e dizem: “Eu quero e gostaria de acreditar
em um Deus que escute as minhas orações, mas eu rezo e minhas orações
não são respondidas”, eu quero oferecer uma alternativa que torne
desnecessário eles terem que parar de acreditar em Deus, ou terem que
brigar com Deus. Vou tentar explicar melhor o meu ponto de vista: eu
acho que muitas pessoas que são religiosas têm problemas com a oração,
porque tendem a confundir a figura de Deus com a do Papai Noel. Nossa
compreensão de Deus, ou da função que ele tem, é a seguinte: fazemos uma
lista de tudo o que queremos e achamos que merecemos e imploramos para
que Deus nos dê tudo o que achamos que merecemos ou que nos faz felizes.
No entanto, tais pedidos só poderiam ser correspondidos se Deus fosse
Papai Noel. Deus não o é. O que devemos dizer a Deus é: “Eu estou
enfrentando uma situação muito difícil. Eu acho que posso lidar com isso
se eu tiver certeza de que você está do meu lado, que você não está
fazendo isso comigo, mas que você está me apoiando, trabalhando contra o
crime, trabalhando contra a injustiça que potencialmente pode vir a me
afligir. Se eu souber que você está do meu lado, aí sim, eu posso
encontrar forças para continuar no meu caminho”. É desta forma que eu
gostaria de encorajar as pessoas a conciliar essa ideia com a relação
tradicional das orações.
Pergunta Blog: Há uma justificação teológica dentro dos textos sagrados para apoiar suas posições?
Harold Kushner: Sim,
existe. De onde tiramos a ideia de que o poder é a suprema virtude
religiosa? Talvez de um mundo onde os imperadores tinham poder sobre a
vida e a morte, e tínhamos que acreditar em um Deus que fosse pelo menos
tão poderoso quanto o governante humano, ou até mais. Mas no mundo de
hoje nós não temos esse problema. Há algo de não-religioso em adorar o
poder indiscriminado, em dizer que Deus é grande, porque Ele é tão
poderoso. Eu me sinto muito mais confortável acreditando que Deus é
grande, porque ele é completamente compassivo e totalmente disponível
para ajudar as pessoas.
Pergunta Blog: Mas há alguma justificativa teológica na Bíblia? Será que alguém precisa ter uma interpretação diferente da Bíblia para encontrar apoio ou acreditar na sua posição?
Harold Kushner: Sim, existe uma justificativa na
Bíblia. Se há um capítulo de todo o livro que todo o mundo sabe de cor, é
o salmo 23: “O Senhor é meu pastor”. Eu não sei se o verso tem a mesma
importância na liturgia na América Latina como na liturgia
norte-americana, mas é o salmo que ditamos em todos os funerais e em
todos os enterros. No salmo 23, o verso mais importante é “Mesmo quando
eu andar pelo vale da sombra da morte, não temerei perigo algum, pois Tu
estás comigo”. Para o autor deste salmo, o que é reconfortante sobre a
função de Deus não é que Ele o tenha levado a passar pelo vale da sombra
da morte, não é que Deus tenha atingido alguém que Ele ama, não é que
Deus o tenha afligido com uma doença potencialmente mortal, e sim que
ele terá o apoio de Deus quando for confrontado com situações difíceis,
porque Deus estará com ele: “Tu estás comigo”. Se você ler o salmo 23
com atenção, quando tudo está indo bem para a pessoa que escreveu o
salmo, ela se refere a Deus como “Ele”. Somente quando algo terrível lhe
acontece é que ela não diz “Ele,” mas “Tu estás comigo,” o “Ele” passa
para “Tu”. A religião, ou a crença em Deus, torna-se real quando você
tem uma tarefa intransponível pela sua frente e Deus concede a
capacidade ou a força para enfrentá-la. Como o exemplo acima demonstra, a
teologia é um jogo de palavras, podendo por isso ser considerada um
grande desafio intelectual.
Pergunta Blog: Você acha que a sua perspectiva em relação à
onipotência de Deus é mais prevalecente dentro do judaísmo, ou acha que
também há um grande número de padres católicos, clérigos cristãos ou
imãs que compartilham a sua visão?
Harold Kushner: Eu ainda não convenci todos, mas
tais ideias não estão somente limitadas ao judaísmo. Já encontrei
diversas pessoas no clero católico e protestante que se encontram
abertas a essa interpretação. Em relação aos muçulmanos, não muitos. Eu
acho que os muçulmanos seriam resistentes a aceitar tal visão. Mas
quando eu escrevi o livro, em 1981, a ideia de que Deus estava do nosso
lado e não do lado da doença atingiu muitos como herética e louca.
Ninguém nunca tinha ouvido falar dela! Agora as pessoas estão se
tornando mais abertas para conceber a onipotência de Deus de forma
diferente. Há um reconhecimento maior da minha interpretação, e é uma
opção viável para aquelas pessoas que têm fé em Deus. Há diversas
escolas de pensamento que exploram a ideia de um Deus com poderes
limitados. As pessoas podem encontrar tal conceito em livros bíblicos e
em escritos medievais. Afinal, é muito mais fácil ter uma admiração
saudável por Deus do que relutantemente baixar a cabeça a um Deus que é
arbitrariamente cruel.
Pergunta Blog: Sócrates sabiamente disse que aqueles que querem o menor número de coisas estão mais próximos dos deuses.
Parece que, como sociedade, nós estamos cada vez mais longe deste
conceito. No entanto, os níveis de depressão e infelicidade são os mais
altos em alguns dos países mais ricos do mundo. Qual é a sua explicação
para tal fenômeno?
Harold Kushner: Deixa eu te dizer uma coisa, essa
pergunta me intriga da mesma maneira que provavelmente intriga você. Às
vezes eu acho que a culpa é da publicidade que atormenta as pessoas com
imagens de diversos bens materiais que não possuímos. O objetivo é o de
convencer sutilmente o ser humano de que ele seria mais feliz se tivesse
isso ou aquilo. Havia um tempo em que as pessoas eram felizes com um
décimo do que uma pessoa em média tem hoje em dia. Assim sendo, eu acho
que as expectativas aumentaram e, em consequência disso, eu acho que
muitas pessoas estão infelizes consigo mesmas e com o tipo de pessoa que
são. Na verdade, elas não têm noção do que verdadeiramente está lhes
faltando. Meu sermão durante o Yom Kippur, no ano passado,
dizia algo sobre o fato de termos a tendência de invejar todas essas
pessoas ricas. Muitas vezes, temos conhecimento dos problemas que muitas
famílias famosas e de alto poder aquisitivo têm, como por exemplo, seus
filhos que são presos por uso de drogas, seus múltiplos divórcios e
suas cirurgias plásticas sucessivas. No entanto, nunca paramos para nos
perguntar, porque estamos invejando essas famílias ou pessoas. Na
verdade, talvez sejam eles que estejam nos invejando. Portanto, é muito
possível que haja milionários que dizem: “Talvez eu pudesse ser mais
feliz com um décimo do que eu estou ganhando, se pudesse ter a família e
o casamento que eu vejo outras pessoas tendo”. Assim sendo, nós não
damos valor ao que temos. As pessoas seriam muito mais felizes se
pudessem focalizar naquilo que elas possuem e terem gratidão por aquilo
que têm. E deveriam se sentir abençoadas por isso e satisfeitas com o
mundo em que vivem. Vale a pena discutir o assunto um pouco mais a
fundo. A pessoa mais pobre na minha comunidade, por exemplo, vive melhor
do que o imperador da Rússia vivia, pois ela tem calefação e
canalização, tem todos os tipos de dispositivos elétricos para cozinhar
seus alimentos, automóveis e entretenimento que o imperador naquela
época sequer sonhava ter. Nossas vidas realmente teriam muito a nos
oferecer, se tivéssemos a habilidade de focarmos somente naquilo que
temos, ao invés de dar importância às coisas que nos faltam.
Pergunta Blog: Há alguns anos atrás, o Papa Bento XVI alertou
para os perigos de um mundo caracterizado pelo relativismo moral. Qual é
a sua opinião sobre este assunto?
Harold Kushner: O tema do relativismo moral e como
ele afeta o mundo em que vivemos faz parte de atuais discussões
interessantes no meio acadêmico. Por um lado, eu acho que há princípios
ou atitudes que são e devem ser consideradas absolutamente ou
universalmente certas ou erradas. No entanto, eu acredito que muitas
denominações religiosas taxaram certos valores como sendo absolutistas,
quando na verdade muitas pessoas não os veem de tal forma. Eu acho que
você poderia provavelmente obter um consenso entre as pessoas de que o
assassinato é errado e de que torturar pessoas é igualmente errado,
embora recentemente tenha havido casos de governos que tentam justificar
a tortura. Desse modo, me parece ser um enorme desafio
para as autoridades religiosas fazer com que muitas pessoas concordem
com elas, quando esses líderes qualificam os seguintes temas como
princípios universais ou absolutos: que o aborto é errado porque é uma
forma de assassinato, que a contracepção é errada e que as pessoas que
dão dinheiro para aquelas que não trabalham é errado. Assim sendo, fica
muito difícil levar as autoridades a sério quando elas opinam sobre tais
assuntos desta forma, como se fossem princípios universais. O fato de
70% dos católicos americanos ignorarem os pronunciamentos do Papa em
relação à contracepção é simplesmente prova disso. Há uma geração, esta
atitude seria inimaginável. No entanto, são estas divergências em
relação ao assunto em causa que caracterizam a situação atual, a batalha
contra o relativismo moral, porque os diversos porta-vozes que falam em
nome de diversas religiões atribuem valores absolutos a coisas que na
verdade não carregam esses valores absolutos.
Pergunta Blog: Alguns argumentam que a decadência de valores
morais, que em geral aflige o mundo, está de certa forma ligada à
ausência da religião na vida das pessoas. O argumento é que as pessoas
sem um vínculo com a religião ou sem o medo do castigo divino ou de
alguma forma de retribuição tornam-se menos inclinadas a fazer o que é
certo. Qual é a sua opinião a respeito deste conceito?
Harold Kushner: Eu não acho que o temor a Deus tenha
alguma coisa a ver com isso. Eu acho que uma pessoa tem mais medo da
opinião pública. As pessoas sempre fizeram as coisas em segredo, o que
significa que Deus vê o que eu estou fazendo, mas os vizinhos não, e por
isso eu estou bem. Eu não acho que a religião seja o fator que leva à
moralidade. Talvez no início da civilização a religião tenha ajudado a
definir questões do certo e do errado. Eu acredito que o sentido do que é
certo e errado está imbuído na natureza humana: intuitivamente, sabemos
o que está certo ou errado. Por exemplo, quando crianças de três anos
de idade veem um colega implicando com outro, elas têm noção de que isso
está errado. Essa é a minha interpretação da história do jardim do
Éden. Qual foi a fruta que Adão e Eva comeram? Foi a fruta da árvore do
conhecimento sobre o que era certo e o que era errado, do bem e do mal.
Nós temos um entendimento do que é certo e do que é errado, que nenhum
outro ser possui. Um leão, por exemplo, pode sair e matar uma zebra e
isso não é crime, é só o jantar. Mas para um ser humano matar outro ser
vivo já é um ato imoral. Nós entendemos que tirar as coisas dos outros à
força é errado. É por isso que a palavra “racionalização” existe em
inglês porque o fazemos. Nós sabemos o que é errado e às vezes tentamos
bancar que não está errado. Eu acho que o papel da religião não é para
nos dizer o que é certo ou errado. Eu acho que intuitivamente já sabemos
disso, e acredito que o papel da religião é o de construir um espírito
coletivo, um espírito de comunidade entre as pessoas.
Pergunta Blog: Um dos maiores desafios enfrentados hoje em
dia por diversos treinadores no esporte profissional é o de gerenciar os diferentes tipos de personalidades dos jogadores. Em uma sociedade obcecada
com o culto de celebridades, que tende a endeusar o indivíduo, talvez
não haja maior desafio para um treinador do que o de convencer um atleta
com um ego enorme a pôr os seus interesses individuais de lado em prol
dos da equipe. De fato, verificamos com frequência que os treinadores
mais bem sucedidos são aqueles que são capazes de obter o melhor
possível destes indivíduos complicados e problemáticos, com o intuito de
promover uma mentalidade coletiva dentro da equipe. Se olharmos para as grandes dinastias esportivas, como o New England Patriots e o New York Giants no futebol americano, ou o Chicago Bulls e o Los Angeles Lakers
no basquete, vemos que todas elas foram lideradas por homens de fé e
altamente filosóficos, que foram capazes de impregnar esse espírito
nessas equipes. Você poderia dar sua opinião sobre este tema?
Harold Kushner: Você está comentando sobre um dos
assuntos o qual tenho maior interesse. Religião, ou teologia não
significa crença individual. Religião significa comunidade. A religião é
algo que conecta as pessoas. Eu acredito que a origem da palavra
“religio” está relacionada com a palavra em latim “religare,” que
significa “re-ligar,” “reconectar”. O objetivo da religião é colocar-nos
em uma comunidade que apoia o compromisso com tais valores, que promove
o espírito de comunidade e de equipe e que nos ajuda a pôr em prática
esse espírito no dia a dia.
Pergunta Blog: Então, eu presumo que você é da opinião que os
treinadores lendários que são influenciados pela religião e pela
filosofia, tais como Vince Lombardi, John Wooden e Phil Jackson,
possuíam uma maior habilidade de unir e fazer as pessoas lutarem por
objetivos comuns.
Harold Kushner: Ah, com certeza. Eu acho que a era
dos grandes homens que só dizem “siga-me,” como os Napoleões e os
Césares da vida, ficaram para trás. O que faz um líder ser eficiente e
bem sucedido na área do esporte, negócios e política, é a habilidade de
criar comunidades onde as pessoas estão dispostas a juntar suas forças
com as dos outros em prol do grupo. O Phil Jackson que você mencionou
falava sobre os cinco jogadores do Chicago Bulls como se fossem
os dedos de uma mão. Quando eles estão todos em sintonia, eles formam
um punho compacto. Eu acho que é isso que um verdadeiro líder deve
propagar nos dias de hoje.
Pergunta Blog: A vida dá muitas voltas, e em várias ocasiões
nos pega completamente de surpresa, e o imprevisível às vezes acontece.
Como podemos filosoficamente e teologicamente nos preparar para tais
acontecimentos inesperados que possam vir a acontecer? E como é que
podemos viver em um mundo sem receios e sem medo?
Harold Kushner: Essa é uma pergunta muito boa. Com
tudo o que vemos, você tem que estar apreensivo sobre o futuro. Em um
programa de TV em que eu estava participando alguns anos atrás, no
Canadá, alguém me disse: “Eu estou com medo, porque não consigo enxergar
o futuro”. E eu disse-lhe que não deveria saber sobre o futuro. É como
assistir a um filme do qual você já sabe o final. A religião não oferece
garantias a ninguém de que as coisas vão correr bem e também não
promete que se você for uma boa pessoa, as coisas vão correr bem. O que a
religião diz é o seguinte: “Sim, é claro que estamos apreensivos sobre o
futuro neste mundo muito confuso e incerto”. A promessa da religião não
é que as pessoas boas vão ter um final feliz. A promessa da religião é
que, aconteça o que acontecer, você terá os recursos para lidar com
qualquer situação. Essa é a mensagem que eu passo regularmente à minha
congregação. É essa a mensagem que eu gostaria de estender aos seus
leitores. Não sabemos se coisas boas irão nos acontecer no próximo ano,
mas temos plena confiança de que, para o que mais tememos, Deus nos
proporcionará os poderes e a força que nunca imaginaríamos ter para ser
capazes de lidar com nossas adversidades, por maiores que elas sejam.
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Página 36 - Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu ea terra.
Página 21 - E
o estulto não percebe isto: Ainda que os ímpios brotem como a erva, E
floresçam todos os que praticam a iniquidade Nada obstante, serão
destruídos para sempre. . . O justo florescerá como a palmeira, Crescerá
como o cedro do Líbano...
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